O uso do Sinasefe como instrumento da esquerda golpista
Junho de 2023
Junho de 2023
Todos os sindicalizados devem se lembrar da fatídica greve de 2015. Nas vésperas do golpe contra Dilma, o sindicato investiu uma greve pela reposição salarial, mas que na prática colaborou com o desgaste do governo PT. Uma greve que, além de atacar um governo de esquerda, culminou no enfraquecimento da nossa categoria, sem falar que o Sinasefe conseguiu a façanha de ter negociado aumento menor do que o governo havia proposto.
Cabe lembrar que, à época, o Sinasefe estava filiado ao CSP-Conlutas. O coordenador nacional do sindicato também foi diretor desta central sindical, que apoiou o golpe contra Dilma, encampando movimentos golpistas como "Fora todos" e "Não vai ter copa". Atualmente o coletivo Pão e Rosas dentro do Sinasefe é comandado por este mesmo coordenador.
Em 2016, o 30o Consinasefe ocorreu em Brasília, quando atos contra o golpe estavam intensos. E qual foi o papel do Sinasefe? Parte da direção levantava faixas com ‘Fora todos’ e se negaram a participar dos atos contra o golpe, enquanto o restante dos participantes abandonaram o Consinasfe para ir às ruas, como destacam algumas das teses apresentadas no 31o consinasefe, ano seguinte ao golpe:
"Na luta contra o golpe em março de 2016 se espalhou por todo o Brasil manifestações que coincidiram com o 30º CONSINASEFE, em 18 de março de 2016. Durante este evento nas ruas a luta era “Contra o ajuste fiscal, em defesa da democracia, dos direitos e contra o impeachment da Presidente Dilma” organizados pela FBP (Frente Brasil Popular) e a FPM (Frente Povo sem Medo), do qual participaram mais da metade dos delegados, que ao serem convidados para irem ao ato levantaram-se do local do evento do 30ª CONSINASEFE com a palavra de ordem, “NÃO VAI TER GOLPE, VAI TER LUTA” encaminhando-se para a Esplanada em Brasília. Enquanto isso, militantes da CSP-CONLUTAS ergueram no 30º Consinasefe sua faixa ``Fora Dilma, Lula e o PT e Fora Todos´´, pois eram com esta faixa e discurso que os apoiadores do “Fora Todos” resistiram à ida ao Ato em Brasília.”
O boletim do Sinasefe-SC, ressalta também este posicionamento errático de parte do sindicato:
"Cabe lembrar que em pleno 30º Congresso Eleitoral do SINASEFE, de 18 a 21 de março de 2016, tivemos que conviver com uma faixa “Fora Todos”, enquanto mais da metade daquele Congresso pedia para que pudéssemos ir às ruas para a passeata contra o golpe na Esplanada dos Ministérios, que defendia a combalida democracia brasileira. Várias lideranças presentes naquele Congresso, com apoio de delegados de algumas bases, decidiram ficar e ignorar a movimentação contra o golpe que já havia se iniciado no país. Não deixando de lado o fato de que aquela era a tônica de vários sindicatos, partidos e centrais que teimavam em continuar com a mesma postura de que não havia um golpe em curso. Enfim, preferiram ficar ao lado da corja de Eduardo Cunha, ao lado do STF, da Lava Jato e dos setores mais reacionários da nossa sociedade, capitaneados pela Fiesp, pelos militares e pela mídia burguesa."
Ainda em 2014, ano de eleição, a nova direção nacional do Sinasefe já havia manifestado sua posição logo que tomou posse: "Esta nova DN, que recebe um Sindicato com a responsabilidade de conduzir uma greve contra o governo Dilma em ano de eleição presidencial e Copa da Fifa no Brasil".
Porém, nos anos dos governos Temer e Bolsonaro, que impuseram um conjunto de ataques aos servidores, não se organizaram greves sérias, e nenhuma conquista sindical foi alcançada. Pelo contrário. Sete anos de salários congelados, exclusão de uma série de cargos, terceirização de setores do IF e um imenso desmonte da rede EBTT não foram capazes de mobilizar a direção do Sinasefe.
Em 2019, o Sinasefe se desfilia do CSP-Conlutas (o Andes se desfiliou em 2022 também) e em 2022 consegue aprovar apoio à candidatura de Lula.
Não foi nossa surpresa quando a primeira medida fiscal do governo Lula reacendeu o ímpeto golpista da direção do sindicato. O arcabouço fiscal virou o mote central de campanha tanto da direção nacional quanto da seção São Paulo, cuja coordenação faz parte do grupo Pão e Rosas, o mesmo coletivo que estava na dianteira da greve de 2015 e no "fora todos" em 2016.
A crítica ao arcabouço fiscal foi usado, de forma oportunista, para tentar deslegitimar o GT Carreira, argumentando que esta medida inviabilizaria qualquer reforma positiva na nossa carreira, jogando o sindicato contra os interesses da própria categoria e contra o governo ao mesmo tempo.
Ainda que seja uma medida ruim, consideramos que o arcabouço fiscal é uma tentativa do governo Lula em superar o teto de gastos até que consiga mais força política no congresso para propor medidas melhores. Nossa avaliação é que o sindicato deveria focar sua luta contra os juros altos, contra a independência do banco central para garantir que os recursos públicos não sejam enviados aos bancos e ao pagamento da dívida, mas sim à população, como já escrevemos, de forma a auxiliar o governo que apoiamos a sair do sufoco dos banqueiros. O risco do ataque ao arcabouço fiscal como eixo central de luta é, novamente, usar o sindicato para desestabilizar o governo do PT. Lembrando que atualmente este setor é conduzido pelo PSOL e até mesmo alas direitistas do próprio PT no sindicato.
O histórico mostra que este setor representado hoje majoritariamente pelo Pão e Rosas, colocou o sindicato em um caminho que, na prática, apoiou o golpe contra Dilma, abrindo espaço para Temer e Bolsonaro, e não foi capaz de fazer uma luta séria durante os governos golpistas. Como confiar numa direção que usa o sindicato para interesses confusos como estes?